sábado, 14 de janeiro de 2012

Guardanapos na mesa de um bar


Noite de sábado e o bar estava lotado, nada de anormal. A música ao vivo competia com as vozes sóbrias e alteradas do local, além do sempre presente som de algo se quebrando. Os garçons costuravam por entre as mesas levando as cervejas geladas e recolhendo os cascos vazios, num ritmo apressado e quase dançante. Os tira-gostos temperavam o ar, enchendo as bocas de água e, os estômagos de desejo. 

Entretanto, a mesa deles não estava na parte interna do bar, mas sim na calçada, próxima ao pulsar da rua. A noite não estava muito quente, mas a temperatura do lado de fora era a ideal. Eram quatro amigos, conversando, bebendo e rindo. Ao primeiro olhar, passavam a impressão de serem muito diferentes entre si, mas posteriormente vinha a certeza: eram muito diferentes entre si. O que se sentava voltado para a rua usava óculos, vestia-se com um terno preto e tinha uma cara um pouco mais séria. Entretanto era o que mais ria na mesa. Todos estavam rindo bastante, mas este parecia quase se mijar de tanto gargalhar. À esquerda do homem de óculos estava um com um estilo mais jovem. Era mais musculoso, com tatuagens ilustrando os braços, e tinha a cabeça raspada. Parecia já ter perdido para o álcool a noção da força e do espaço, se é que algum dia a teve. Caiu umas três vezes da cadeira, derrubou 2 garrafas e parecia espancar os demais quando fazia algumas brincadeiras típicas que, do ponto de vista dele, exigiam contato físico. À direita do homem de óculos estava um homem mais alto e mais magro com uma camiseta branca com um cogumelo verde do Mário de supernintendo. Enquanto bebia, fazia cada vez mais citações de jogos ou filmes “nerds”. Por fim, o homem de costas para a rua era bastante curioso. Não era baixo nem alto, nem gordo e nem magro, nem muito forte nem muito fraco. Não possuía uma característica física que lhe chamasse a atenção, mas era cheio de manias. Sempre colocava a nova garrafa de cerveja que chegava por cima do anel de água da anterior, folheava o cardápio várias vezes e observava o interior do bar procurando... nada, apenas gostava de observar. 

Estavam ali há 2 horas. Os assuntos que conversavam nada tinham de especiais, casualidades e dia-a-dia apenas. Conversavam sobre nada com nada. Mas como viam-se apenas nos fins de semana, cada um tinha a sua hora de ser o narrador na mesa. Não que tivesse uma ordem, mas quando um iniciava a narração os outros o ouviam com total atenção. A maioria das histórias ou estórias contadas terminava em gargalhadas com cerveja saindo pelo nariz. E outras deixavam todos revoltados, provavelmente alguma reclamação de algo que ocorreu no trabalho. Não é muito fácil explicar o que faziam ali naquela mesa. Uma forma objetiva e subjetiva de resposta seria dizer que eles simplesmente estavam sendo amigos. Mas a menor das preocupações deles era tentar entender o que estavam fazendo ali, simplesmente estavam vivendo suas vidas. Ou melhor, compartilhando suas vidas. 

Conversavam, bebiam, conversavam, riam, brigavam, conversavam mais, abraçavam-se. Os assuntos pareciam não ter fim. Ou pelo menos, eles não queriam que tivesse. Queriam evitar que o silêncio caísse sobre a mesa, pois muitas vezes ele vinha acompanhado das frases do tipo: “É né! Hora de ir embora” ou “Bora pedir a conta?”. E isso significava que só se veriam na próxima semana, se não houver imprevistos. Mas nessa noite o silêncio demorou a dar as caras e levantaram da mesa quase na hora do sol do domingo aparecer. 

Pediram a conta e quando esta chegou, tentaram fazer a divisão de cabeça, mas viram que estavam bêbados demais pra isso. Pegaram um guardanapo e fizeram os cálculos com um pouco de dificuldade, mas conseguiram. Entregaram a quantia para o garçom. Despediram-se com apertos de mãos e abraços fortes. Três pegaram táxi e “homem observador” foi a pé, pois morava mais perto dali. No meio do caminho percebeu que estava com o papel rabiscado de números na mão. Olhou para ele, sorriu sem saber porquê e o guardou no bolso.

2 comentários:

  1. A nostalgia/melancolia do texto fez meu coração disparar! Talvez devido ao fato de que você escreve sobre algumas coisas do cotidiano que, embora muitas vezes nas nossas vidas não seja de forma idêntica ao do texto, a gente já passou por algo parecido e, de certa forma, podemos nos encaixar em algumas ou várias dessas linhas. Li tudo num fôlego só, mesmo não sendo uma escrita pra se ler de supetão. Mais uma bela postagem meu amigo!

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  2. Até puxei uma cadeira e pedi um copo pra me embriagar do texto.

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