sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Simplesmente, paz



O alarme do celular o fez abrir os olhos lentamente, sem compromisso com o novo dia. Deixou a música tocando por mais alguns minutos, apreciando a calma que ela lhe passava. Sempre escolhia toques mais tranquilos como despertador e dessa vez Guaranteed abriu sua manhã. O apartamento estava um tanto quanto bagunçado e empoeirado, o que geralmente acontecia quando estava sozinho. Ficou deitado olhando o teto, conferiu as horas no celular e percebeu que havia recebido uma mensagem de “boa noite” de um dos seus amigos, mas só a tinha visto naquele momento. Simplesmente, sorriu. Levantou e ligou seu computador, mas dessa vez sem interesse algum. Conferiu tudo o que precisava e o desligou alguns minutos depois. Sentia-se envolto por uma paz que há muito não lhe fazia companhia. Não entendia bem qual o motivo, talvez porque todos ao seu redor estavam bem, familiares, amigos, colegas. Ou talvez era ele quem estivesse bem consigo mesmo. Não importava, estava realmente em paz. Foi até o guarda-roupa e pegou um livro que há tempos o comprara, mas ainda não havia lido. Deitou novamente e começou a leitura. Raramente ocupava-se apenas com uma tarefa, assim, também trocava mensagens com os amigos meio a história fictícia que iniciara. Era uma forma de fazer parte do dia deles e deixar com que compartilhassem do seu dia. Na maioria das vezes, não falavam nada de muito importante, simplesmente bobagens, piadas, trocadilhos. Amava seus amigos, mesmo que não conseguisse expressar como sempre quis, mas acreditava que eles sabiam. E sabiam. 

A hora do almoço passou sem que percebesse e não teve ânimo de ir ao restaurante, talvez por não querer sair da tranquilidade em que estava ou talvez por ainda estar cheio com o hambúrguer que comera de madrugada com alguns amigos. Decidiu por fazer uma faxina no apartamento. Arrastou alguns móveis da sala, ligou o aspirador e começou a desempoeirar o lugar. O barulho que o objeto fazia não superava a música que derramava dos seus fones, caindo diretamente dentro dos ouvidos, dentro da mente e talvez até mesmo dentro da alma. De início, não percebeu que estava sorrindo e quando notou sentiu-se um pouco bobo, mas não se desfez do sorriso. Chegando ao quarto, arrumou todos os livros, papéis, dvds antes da limpeza. Surpreendia-se por ainda não estar careca, levando em consideração a quantidade do seu cabelo que havia no chão. Mas o que mais lhe chamou a atenção não foi o próprio cabelo e sim os longos fios castanhos claro que estava sobre os travesseiros e lençóis. E mais uma vez o riso bobo estampou-se na cara. Algumas noites atrás, dormira com uma bela garota, simpática, alegre e divertida. Somente os dois sabiam a respeito da noite que compartilharam. Ele raramente falava sobre sua vida pessoal, ela concordava e, mesmo não o conhecendo muito bem, compreendia-o. Talvez esse ocorrido também contribuísse para o estado de espírito em que ele se encontrava. Trocou a roupa de cama, dirigiu-se até à cozinha para um lanche e depois deitou-se para assistir um filme. 

Um dia como outro qualquer. Talvez. Mas sentia o oposto. E sentia-se bem, sentia-se cheio, sentia-se leve. Sentia-se simplesmente em paz.