quarta-feira, 25 de maio de 2011

Lugar para dois

Entrou no quarto, jogou a mala sobre a cama e a abriu. Estava cansado das horas de viagem. 

A casa em que estava era a mesma em que passava as férias com seu irmão. Compraram-na juntos e queriam justamente um lugar na beira da praia, que fosse tão deserto quanto bonito. A sensação de calma reinava em absoluta sincronia com as ondas do mar e a cor da areia. A casa era, de uma forma geral, bem simples, com apenas um andar e pouco mobiliada. Tinha apenas o necessário. Contudo, o lugar em que ambos os irmãos mais gostavam não estava em seu interior, mas na sua fachada. Nessa, eles colocavam duas cadeiras e uma mesinha entre elas, tudo de madeira e sobre a areia branca. Ficavam horas ali, tomando cerveja, conversando, rindo, bebendo um pouco mais e, por muitas vezes, caindo, justificando muitos dos risos. Um nunca começava a beber antes de o outro chegar, esse era o acordo. Mas, por incrível que pareça, em todas as vezes eles chegaram juntos, sem marcar horário. Moravam em cidades diferentes e aquele era um momento só deles, um momento que ia além do simples reencontro. Era ali que um sempre tinha a certeza da presença do outro, a certeza de que, cada vez que se separavam, haveria aquela casa para onde voltariam e se sentariam nas mesmas cadeiras, que passam a maior parte do tempo esperando por seus donos. Por muitas vezes, dia e noite confundiam-se. Não importavam horários, compromissos ou problemas. Ali era um local parado no tempo e no espaço ou, pelo menos, era o que gostavam de pensar. A história que escreviam ali não era uma simples farra entre irmãos, sabiam que era algo mais. Trocavam confiança, companheirismo e amizade. Compartilhavam suas vidas. Era incrível como tão pouca coisa se transformava nesses momentos únicos.

Fechou a mala e saiu da casa. Foi no carro e pegou algumas cervejas que comprara na estrada, colocou algumas sobre a mesa, sentou-se na sua cadeira e começou a beber. 

Dessa vez não havia conversa, não havia risos, não havia quedas e não havia outra cadeira.

2 comentários:

  1. No !
    Por incrível que pareça eu fiquei imaginando o quão triste seria se um dos dois morresse. Isso antes de ler o fim. Triste. Tomara que eles apenas tenham brigado, ou algo do tipo (apesar de eu saber que não) porque assim dá para voltar atrás ainda.

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